História da criação da Ecoterra

Na Região Norte do Rio Grande do Sul, nas encostas do Rio Uruguai, mais de 50 famílias dos municípios de Aratiba, Três Arroios, Itatiba do Sul, Barrão Cotegipe e Barra do Rio Azul têm uma bela história para contar. Organizadas em grupos de cooperação, elas contam que os frutos hoje colhidos resultam de sementes lançadas muitos anos antes.

Algumas famílias pioneiras iniciaram a caminhada da Agroecologia quando ainda nem se usava essa palavra e sim “tecnologias alternativas”, lá pela metade dos anos de 1980, quando criticar o modelo da agricultura industrial e tentar praticar uma produção orgânica, ecológica ou limpa era visto como “coisa do atraso”, que não chegaria a lugar algum, sendo motivo de descrença.

Ao longo do tempo, a região foi se destacando em organização e conquistas, como políticas municipais de apoio à Agroecologia, aquisição de alimentos ecológicos para alimentação escolar, Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER)… Outra caminhada foi a implantação de experiências alternativas ao modelo produtivo hegemônico, no qual famílias e grupos associativos participavam de um processo de mudanças, com tecnologias agroecológicas e cooperação familiar.

Em 2001, o Centro de Tecnologias Alternativas Populares – CETAP, que já assessorava esse trabalho na região, juntamente com o Centro Internacional para a Cooperação e Desenvolvimento Agrícola/CICDA e com os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STR) dos municípios de Aratiba, Itatiba do Sul e Três Arroios, iniciaram um projeto de desenvolvimento conjunto, visando fortalecer as experiências agroecológicas e ampliá-las.

Para administrar e coordenar o projeto Alto Uruguai foi criada uma associação, a ADATABI – Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia nos Municípios de Aratiba, Três Arroios, Barra do Rio Azul e Itatiba do Sul, fundada em 2001 e encerrada em 2007, mantendo uma equipe técnica para acompanhar os grupos e famílias desses municípios, contribuindo para dar origem à ECOTERRA.

A partir disso, a região ampliou o número de grupos assessorados pelo CETAP, com experiências em produção ecológica de frutas, hortaliças, legumes, tubérculos, grãos e outros produtos, fortalecendo a organização.

Criação da Associação ECOTERRA

Em janeiro de 2001, cinco grupos de agricultores familiares distribuídos em quatro municípios gaúchos: Aratiba, Itatiba do Sul, Três Arroios e Barra do Rio Azul, em conjunto com a ADATABI e o CETAP, realizaram discussões para início de uma organização coletiva. O objetivo era criar uma organização coordenada pelas agricultoras e agricultores, visando organizar a produção e comercializar alimentos ecológicos de forma direta, em feiras e outros espaços alternativos. A partir destes debates, consolidou-se a formação da Associação Regional de Cooperação e Agroecologia – ECOTERRA.

A primeira definição do grupo foi a organização de uma feira, e esta seria somente de produtos ecológicos. A garantia de credibilidade da origem e qualidade dos produtos seria atestada pela Rede Ecovida de Agroecologia, uma organização dos três estados do sul do Brasil, à qual se filiam grupos de agricultores ecológicos, técnicos e entidades com reconhecida contribuição para a promoção da agroecologia, além de organizações de consumidores. A Rede Ecovida é organizada em núcleos, sendo o Núcleo Alto Uruguai organizado na região de Erechim/RS.

No ano seguinte, em maio de 2002, a feira foi inaugurada, sendo a primeira iniciativa que derivou para novas formas de abastecimento e comercialização ao longo do tempo, até chegar ao Circuito de Circulação e Comercialização de Produtos Agroecológicos.

A partir de 2002, as famílias agricultoras associadas à ECOTERRA, que tem sede, desde 2018, no município de Três Arroios/RS, estavam perdendo parte da produção, pois o mercado local não estava absorvendo a quantidade produzida. Inicialmente buscou-se o diálogo junto a mercados e ao poder público dos municípios da região, no intuito que estes pudessem absorver essa produção. Não foi obtido o êxito necessário nessa proposta, pois a dinâmica coletiva construída, não segue alguns critérios do mercado tradicional.

A experiência coletiva de comercialização na cidade de Erechim contribuiu com alguns aprendizados importantes para os agricultores da ECOTERRA. Se, por um lado, havia a avaliação de que os princípios e a organização política eram coerentes e faziam com que a dimensão da produção respondesse satisfatoriamente, por outro, a comercialização em feiras livres apresentava limites, em razão de absorver um nível de produção menor, com uma geração de renda insuficiente para viabilizar todas as famílias envolvidas no processo. Tal situação levou ao debate e à construção de novas dinâmicas de comercialização, mais articuladas e envolvendo centros urbanos com maior população e consumo.

O próximo passo foi provocar e ajudar a articular uma dinâmica entre atores da Rede Ecovida de Agroecologia em diferentes estados, buscando ampliação da comercialização. Inicialmente esta dinâmica coletiva apresentava uma demanda pequena, sendo pouco expressiva em relação às possibilidades de oferta da Associação. Era absorvido apenas 15% da capacidade de entrega das famílias da região, quase inviabilizando o processo e colocando em dúvida esta proposta de comercialização.

Criação do Circuito de Circulação e Comercialização de Produtos Agroecológicos

No ano de 2006, a partir de uma demanda concreta para abastecer feiras, pontos fixos e restaurantes em Curitiba/PR, conjuntamente com a Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia (AOPA), a ECOTERRA iniciou uma articulação para possibilitar a troca e a venda de alimentos agroecológicos entre as regiões. Assim se inicia o processo para organizar e estruturar o Circuito de Circulação e Comercialização de Produtos Agroecológicos, a partir da parceria entre organizações de assessoria e de quatro organizações de comercialização, sendo elas:

  • Associação Regional de Cooperação e Agroecologia (ECOTERRA), de Erechim/RS.
  • Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia (AOPA), de Curitiba/PR.
  • Cooperativa Ecoserra, de Lages/SC.
  • Associação Cooperafloresta, de Barra do Turvo/SP.


A iniciativa mobilizou organizações de assessoria técnica, processos de produção, recolhimento, logística, distribuição e comercialização de alimentos agroecológicos nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

Este Circuito envolve atualmente mais de 1.600 famílias agricultoras ecologistas, além de organizações de assessoria, que atuam nas diferentes etapas, entre o processo de produção e o consumo final.


Parceria com o CETAP no acompanhamento técnico

O acompanhamento técnico da ECOTERRA é feito pelo Centro de Tecnologias Alternativas Populares (CETAP), que tem sede em Passo Fundo/RS, mas mantém um escritório regional em Erechim. A atuação do CETAP se baseia nos princípios da agroecologia, focando na orientação técnica produtiva, organizativa e de comercialização junto à ECOTERRA, buscando contribuir na ampliação do número de famílias envolvidas, com a consequente ampliação da diversidade e volume de alimentos produzidos. A troca e a circulação de alimentos entre as regiões permitiu à ECOTERRA, aumentar a diversidade de alimentos ofertados aos consumidores. No início do processo era disponibilizado um alimento em maior quantidade – a laranja Valência – e, atualmente, há uma variedade de mais de 100 alimentos ofertados, de forma regular, em quantidades maiores e com venda garantida.

Ecoterra Alimentos Agroecológicos – Três Arroios/RS
Telefone e WhatsApp: 54 99100 8219 | E-mail: contato@ecoterra.org.br

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