A região Alto Uruguai, onde a Estação Três Arroios da ECOTERRA está inserida, apresenta estrutura fundiária constituída basicamente por pequenas propriedades rurais, onde as famílias buscam a sua sustentação com a produção de alguns produtos como soja, milho, feijão, suínos e leite, comercializados, em sua maioria, com a intermediação de atravessadores e grandes empresas, com base nas integrações.
Para fazer frente a essa situação e discutir alternativas, a partir do processo de assessoria para construção de um novo formato produtivo, seguindo os princípios da Agroecologia, houve a necessidade de serem pensadas dinâmicas diferenciadas de comercialização destes alimentos. Tendo-se presente a necessidade da sustentação das famílias em pequenas propriedades rurais, as dinâmicas existentes, envolvendo apenas os comércios locais e baseado na produção de comodities não possibilitavam a viabilização econômica destas famílias por dois motivos:
A experiência construída por grupos regionais de comercialização direta em feiras, demonstrou que seria possível e viável as famílias se organizarem de forma coletiva e acessarem diferentes mercados dentro e fora da região, principalmente com alimentos agroecológicos.
Buscou-se, então, construir uma dinâmica que permitisse um aumento significativo não só na diversidade de alimentos, como também na quantidade de alimentos produzidos, juntamente com o aumento do número de famílias envolvidas nesse processo.
Um dos motivadores construídos junto com as famílias foi que a produção agroecológica e as dinâmicas de comercialização precisariam passar a ser uma dinâmica produtiva e de geração da renda principal da propriedade, ainda que, para alcançarem este objetivo, as famílias precisassem dedicar mais tempo para a produção agroecológica.
A base para a constituição deste novo formato de comercialização foi e é a viabilização econômica das famílias agroecologistas envolvidas, e essa viabilidade é o principal motivador do processo, juntamente com a satisfação de disponibilizar alimentos agroecológicos para quem os consome.
Assim se constituiu o “Circuito de Circulação e Comercialização de Produtos Agroecológicos”.
O Circuito é uma articulação de famílias agricultoras e organizações para circulação de alimentos e produtos agroecológicos, com certificação de orgânicos, de diversos grupos, organizados em diferentes regiões do Brasil.
De modo geral, é uma rede de sujeitos que atuam concomitantemente, quatro dimensões:
Há mais de 19 anos se constrói coletivamente esta logística compartilhada, que distribui várias dezenas de toneladas de alimentos ecológicos semanalmente, vindos de diferentes municípios e regiões. O Circuito está organizado em estações que abastecem e são abastecidas semanalmente com esse fluxo de produtos.
O Circuito tem, em síntese, o propósito de consolidar uma rede solidária de alimentos agroecológicas em diversas cidades brasileiras. É a junção da logística de distribuição compartilhada, desenvolvida pelas famílias agricultoras e organizações de diferentes regiões do Brasil.
Um dos principais objetivos é a viabilização das famílias agricultoras ecologistas, hoje excluídas do sistema produtivista e convencional, por não terem áreas de terra suficiente, capital de investimento necessário e logística de distribuição de alimentos. Com planejamento da produção e preços justos, mostramos que a agricultura ecológica pode sim produzir maiores quantidades de alimentos, para ajudar a melhorar a qualidade alimentar da sociedade.
Tendo em vista a diversidade de atores envolvidos, um dos critérios construídos coletivamente é que cada Estação tem autonomia para organização de suas dinâmicas locais de parcerias para produção e comercialização. Porém, as estações envolvidas e ativas no circuito têm prioridade na entrega e na compra de alimentos das demais estações.
Com o número de famílias crescente, foi necessário pensar em rotas de recolhimento diretamente nas propriedades rurais, pois muitas famílias envolvidas não têm meios de levar sua produção até a central da Estação ou, muitas vezes, o volume da produção inviabiliza o transporte de forma individual. A diversidade de mercados construídos também foi um fator que exigiu a definição de 14 rotas que atendem parte do Sul brasileiro e do estado de São Paulo.
Dentre os objetivos do Circuito temos:
a) Encurtar a distância entre produtoras e produtores e consumidoras e consumidores, estabelecendo relações éticas e solidárias;
b) Oportunizar a inserção de novas famílias na Agroecologia, adotando um sistema produtivo diversificado e, portanto, menos vulnerável economicamente, tanto para o coletivo das Estações, quanto para a família agricultora;
c) Realizar a comercialização de cada Estação através do “Circuito”, concomitantemente, com o compromisso de adquirir produtos de outras estações, para que os veículos de transporte, como os caminhões, por exemplo, não circulem ociosamente ao longo das rotas, resultando, também, na ampliação da oferta de alimentos agroecológicos orgânicos.
Outra característica marcante é o elevado grau de autonomia relativa e de autogestão que os integrantes do Circuito mantêm ao longo de quase todo o processo: produzem com base nos preceitos agroecológicos; a certificação é viabilizada por Sistema Participativo de Garantia e outros; o acompanhamento técnico é realizado por organizações e entidades que apoiam a agroecologia; o trabalho nas Estações é realizado pelos próprios agricultores e agricultoras; os veículos utilizados são de propriedade das famílias agricultoras e são elas mesmas, na maioria das vezes os filhos, os motoristas e responsáveis por operacionalizar a comercialização, prioritariamente com organizações e empreendimentos parceiros.
A dinâmica do Circuito é organizada em “Estações”, que correspondem às organizações locais envolvidas com a gestão coletiva. Cada Estação indica uma pessoa que fica responsável pela sistematização das demandas e pedidos entre os parceiros vinculados à distribuição e comercialização, seguindo um planejamento de produção, feito com as famílias agricultoras envolvidas.
Aproximadamente a cada 45 dias ocorre uma reunião presencial entre as Estações, quando representantes das famílias agricultoras e organizações de assessoria tomam as decisões sobre a formação de preços, planejamentos, logística, organização das ofertas, demandas e acertos financeiros.
Uma das estratégias construídas coletivamente é que cada estação tem autonomia para organização de suas dinâmicas locais de parcerias, para produção e comercialização. Porém, as estações envolvidas e ativas no circuito têm prioridade na entrega e na compra de alimentos das demais estações.
As principais Estações e parceiros do Circuito, em termos de densidade de interações, podem ser divididas em duas frentes:
Estações de Produção – mais voltadas, mas não exclusivamente, para a produção de alimentos.
Estações de Comercialização – voltadas para o recebimento, armazenamento e distribuição de alimentos.
Estação Três Arroios – com referência no município de Três Arroios/RS, na região Alto Uruguai, coordenada pela Associação ECOTERRA, com envolvimento direto de 80 famílias agricultoras.
Estação Vacaria – com referência no município de Vacaria/RS, na região dos Campos de Cima da Serra, coordenada pelo empreendimento Rural HF Carraro, com envolvimento direto de 75 famílias agricultoras.
Estação do Cerrito – com referência no município de São José do Cerrito/SC, na região Serrana Catarinense, coordenada pelo empreendimento Orgânico Serrano, com envolvimento direto de 50 famílias agricultoras.
Estação Ipê – com referência no município de Ipê/RS, na região da Serra Gaúcha, coordenada pelo empreendimento Econativa, com envolvimento direto de 60 famílias agricultoras e experiência em execução de projetos diversos e políticas públicas no campo institucional, como PAA e PNEA.
Estação São Marcos – com referência no município de São Marcos/RS, na região da Serra Gaúcha, coordenada pelo empreendimento da família Suliani, com envolvimento direto de 5 famílias agricultoras.
Estação Monte Negro – com referência no município de Monte Negro/RS, na região Metropolitana de Porto Alegre, coordenada pelo empreendimento da família Henz, com envolvimento direto de 10 famílias agricultoras.
Estação Caxias – com referência no município Caxias do Sul/RS, na região da Serra Gaúcha, coordenada pela Central de Alimentos Orgânicos e Ecológicos – CAORE, com envolvimento direto de 50 famílias.
Estação São Paulo – foi criada na cidade de São Paulo/SP com o propósito de ser um espaço de recebimento e distribuição de alimentos ecológicos, fortalecendo, através da comercialização, a viabilidade e permanência na agricultura familiar ecológica. O maior desafio é possibilitar o acesso à alimentação saudável e agroecológica de forma justa, dando condições a toda população, inclusive a de baixa renda.
Estação Curitiba – com referência na cidade de Curitiba/PR, foi inicialmente coordenada por um parceiro urbano que tinha um processo de recebimento e distribuição de alimentos ecológicos para diferentes espaços na cidade. Este espaço foi assumido de forma coletiva pelas Estações do Circuito e hoje desempenha um papel extremamente importante na dinâmica de comercialização.
Instituto Chão – com sede na cidade de São Paulo/SP, o Instituto Chão é uma associação de trabalhadores, sem fins lucrativos, que se movimenta para o aprofundamento da consciência crítica da democracia e da igualdade de direitos. Segue os princípios da economia solidária, atuando em rede e contribuindo de forma direta na construção de espaços mais justos de comercialização de alimentos, atuando desde a produção até chegar ao consumidor.
Ecoterra Alimentos Agroecológicos – Três Arroios/RS
Telefone e WhatsApp: 54 99100 8219 | E-mail: contato@ecoterra.org.br